Uma pesquisa desenvolvida por uma estudante do curso de Pedagogia da UniversidadeFederal da Paraíba (UFPB) com orientação de uma professora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) constatou racismo entre crianças que estudam nas primeiras séries do ensino fundamental na Paraíba. De acordo com a pesquisa, 92% dos alunos entrevistados, entre pardos, negros e brancos, tinham comportamento que declarava preconceito racial em relação à cor negra.
O estudo foi realizado com 99 crianças com idades de 4 a 6 anos de duas escolas, sendo uma pública e outra particular, localizadas em um município da região do Brejo paraibano. Para coletar os dados e obter as respostas relacionadas às preferências de cor e relacionamento entre negros e brancos, a estudante Dione do Nascimento e a professora Giovanna Barroca apresentaram aos alunos uma boneca de cor negra e uma boneca de cor branca.
Mesmo considerando uma amostragem relativamente pequena, a docente acredita que o racismo é um fato presente na fase infantil, quando a criança ainda está em formação e começa a convivência social.
“Essas manifestações são desencadeadas com o tempo, influenciadas pelo meio social e cultural. O preconceito apresenta-se de forma explicita, uma vez que as crianças apresentam uma maior espontaneidade”, explicou a professora, lembrando ainda que outras pesquisas com a mesma metodologia já foram realizadas, na década de 1947 nos Estados Unidos, e entre 2008 e 2011, no Estado de Sergipe, e revelaram resultados semelhantes.
Para a professora, o racismo apresentado pelas crianças é consequência de influências de fontes do meio social onde ela está inserida, incluindo-se aí a mídia, a família e até mesmo dentro da própria escola.
Outro dado importante apresentado no estudo de Dione do Nascimento e Giovanna Barroca é o fato das crianças negras negarem a própria identidade. Do total de alunos que participaram da pesquisa, 14 eram negros (as demais eram 37 pardas e 38 brancas) e 92% delas preferiram a boneca branca. Já 76% atribuíram a personalidade de “má” à boneca negra, enquanto que a boneca de cor clara era considerada a de personalidade “boa”.
“Houve crianças negras que se achavam parecidas com a boneca negra, mas preferiam a branca. O grupo dominante, branco, impõe sua estética neste sentido. A escola tem a tarefa de combater o preconceito e ensinar a criança a lidar com a diversidade e pluralidade apresentada no espaço onde ela está inserida. Para isso, ela pode usar várias estratégias e atividades que ajudem os alunos a conviver e respeitar as diferenças”, salientou a docente.
A professora lembrou ainda que está organizando palestras, para crianças e educadores das escolas consultadas, para conscientizar a comunidade escolar sobre o papel da diversidade e da harmonia nas relações intergrupais.
Análise da Notícia
Por: Clareana Cendy
Arte educadora e ativista do Movimento Negro da Paraíba
EDUCAÇÃO TEM QUE SER PENSADA DE FORMA PLURAL E QUE VALORIZE A CULTURA
“É preciso pensar em uma educação plural, que valorize nossa cultura, ancestralidade, que promova um espaço de diálogo e aprendizagem coletiva. Infelizmente não é do dia para a noite que iremos obter esse resultado, tanto do ponto de vista pedagógico quanto do social. Mas esse é o nosso desafio. Oportunizar uma educação de qualidade para que essa geração tenha a educação como um direito garantido, que venha a ser um instrumento de transformação social, para uma sociedade justa, diversificada e igualitária”.
JP